quarta-feira, 9 de abril de 2008

O LÁPIS, A PENA,
A CANETA-TINTEIRO...E, EU.

Peguei no lápis, hoje,
mais para rememorar o tempo da pena
ou da caneta-tinteiro. Esta, dotada
de um tinteiro interno; aquela,
precisando que lhe carregássemos o tinteiro...
E o mata-borrão! Lembram?

Pois era assim nesse tempo!
E isso faz-me lembrar da vez que cacei vaga-lumes.
Mais de vinte!
Sabem para quê?
Queria fazer como aquele menino
da fábula, que estudava à luz deles.
Pois a luz bruxuleante do lampiãozinho
que tínhamos, não oferecia uma claridade satisfatória,
mesmo aos meus bons olhos de piá.

Mas eles também deixaram a desejar,
piscando individualmente. Nunca ao mesmo tempo.
Que fazer?
Mais gravetos no fogo de chão!
Sua queima produzia, por minutos,
boa claridade permitindo que, sobre a perna,
eu fosse vencendo os deveres de casa...

Talvez, por isso, minha caligrafia se faz irregular,
até hoje, mesmo tendo usado aqueles caderninhos
próprios e, ainda, pego castigo em aula:
“devo escrever bonito”, dez, cinqüenta, cem,
trezentas vezes...Fui salvo com uma conversa
mais séria que minha mãe foi ter com dona Josephina,
isso depois de escrever umas quarenta vezes
“bonito”, “bonito”, sozinho numa sala
do segundo piso do “Princesa”, de onde fugi
jogando-me da floreira à janela, a um galho
da árvore em frente à Escola.

E mesmo “bonito”, escrevi feio.
Quem escreveria bonito treinando em cima da perna?
E à luz das chamas de gravetos, sacudidas pela brisa
penetrando pelo lado do galpão que não tinha parede!
A casa ao lado dele era grande, confortável...Mas,
esse galpão de cobertura do forno, do poço, era,
também, nossa sala de estar. Ali ficávamos
depois do cair da noite, até a hora de ir dormir.

Acomodado na proteção do bocal do poço,
além das lições, lia as histórias, as estórias,
estas, em voz alta,
que vovó Itelvina gostava de ouví-las.
Ria muito...principalmente dessa do Menino
e os Vaga-lumes...E de mim, por acreditar!
Pára aí. Mas o que é que o lápis tem a ver
com a velha pena e a caneta-tinteiro?
Ah, sim!
Bem...cada vez que pegava no lápis,
crescia a vontade de ganhar uma pena,
uma caneta-tinteiro...achando que, então,
escreveria bonito “bonito”!

(Evalin Alves Salomão, em 04.10.04, às 22h10/em Santa Cruz Cabrália, BA.)

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